Embora alguns intelectuais ainda se
deixem levar pela idéias preconceituosas cujo melhor exemplo é o doutor
Frederick Werthan (segundo o qual, os quadrinhos seriam um perigo para a
sociedade), a importância das histórias em quadrinhos está mais do que provada.
No
início da década de 50, o senado norte-americano formou um comitê para estudar
a relação entre os quadrinhos e seus leitores para saber se deveriam ser
tomadas medidas contra indústria dos comics.
A
pesquisa revelou dados muito curiosos, como por exemplo: a) cada aficcionado
dos “comics” lia cerca de 15 revistas por mês; b) cada revista vendida era lida
em média por três pessoas; c) ao contrário do que se imaginava, 50% dos
leitores de quadrinhos nos EUA eram adultos com mais de 20 anos de idade.[1]
As
conclusões do senado americano batem com as pesquisas de E. Robinson e Manning
White que, pretendendo encontrar o tipo de americano que não lia quadrinhos,
fizeram uma pesquisa nas classes com instrução superior, pensando encontrá-los
ali:
Mas
constataram o engano de pesquisar sempre crianças e analfabetos os quais não
davam senão respostas de crianças e analfabetos (um fato sabido, mas
esquecido). Encontraram nas pessoas cultas um vivo interesse pelas histórias em
quadrinhos, uma alta estima como gênero, como meio de expressão, e uma firme
oposição contra as opiniões que os condenavam totalmente.[2]
Embora
o mercado dos comics tenha mudado dos anos 50 para cá, a influência dos
quadrinhos continua grande. O leitor de gibis começa lendo Mônica, Cebolinha,
Disney. Depois passa aos super-heróis na pré-adolescência e, entre os 16/17
anos, encontra as histórias mais elaboradas e começa a ler títulos como Sandman
e as Graphic Novels.
Durante
todo esse tempo, as HQs transmitem a esse leitor conceitos, modos de vida,
visões de mundo... e informações científicas. As estratégias de divulgação que
usam os gibis apresentam grande potencial por uma série de razões, entre elas:
o preço (as HQs são uma mídia acessível do ponto de vista econômico. É possível
produzir-se um gibi utilizando-se apenas papel, lápis, nanquim e uma máquina
xerográfica); a popularidade do meio (como foi referido anteriormente, cada
revista é lida em média por três indivíduos); a sua linguagem cujos signos são
facilmente decodificáveis por diversos tipos de pessoas de diferentes culturas;
o fato dos quadrinhos estarem já associados ao divertimento, o que diminui a aversão
que o leitor normal costuma ter a estratégias de divulgação.
Muitas
vezes, os quadrinhos acabam ganhando mais credibilidade que os órgãos de
imprensa convencionais, como o que ocorreu na Inglaterra. De acordo com Paul
Gravett,
fatos
como as recentes distorções dos protestos contra a Poll Tax em Trafalgar
Square, que se detiveram quase que exclusivamente a cobrir as táticas da
polícia, estão fazendo o público duvidar seriamente da confiabilidade e
independência dos meios de comunicação tradicionais. Muitos jovens desistiram
dos jornais e da TV e estão se dirigindo aos gibis - pra terem “as notícias
verdadeiras”. Segundo Alan Moore, “os quadrinhos são a única fonte confiável de
informações que restou”.[3]
A
tese que analisaremos aqui é de que a relação entre as histórias em quadrinhos
e a ciência passou por várias fases.
Num
primeiro momento as HQs desconhecem a ciência, preocupadas que estavam em
apenas divertir.
Num
segundo momento os quadrinistas vão buscar inspiração na ciência, tendo
contanto com o que havia de mais avançados em termos científicos e
principalmente técnicos de sua época. Nessa época são feitas várias
antecipações.
Já
numa terceira fase, essa de maturação, os autores de quadrinhos passam a tomar
partido em favor de valores éticos e de visões de mundo. O sentido de
divulgação científica alarga-se nesse terceiro momento para a divulgação de
paradigmas emergentes, influenciando as novas gerações de cientistas e
acostumando-os com os termos e teorias desse paradigma.
A favor desse segundo
ponto de vista temos o fato de que as histórias em quadrinhos alcançam um
público maior e mais variado que as publicações acadêmicos, sem ter os
compromissos que aquelas sustentam, sendo, portanto um ótimo veículo para a
divulgação de novas teses. Por outro lado, se colocarmos uma lupa sobre aqueles
leitores que produzem ou irão produzir ciência, veremos que os gibis alcançam
aquele público mais jovem, que ainda não está comprometido com a ciência normal
(no sentido de Kuhn) e é, portanto, mais acessível a novas visões de mundo.
Para
responder a essas questões, faremos uma retrospectiva histórica que procurará
analisar a relação entre a ciência e os quadrinhos. Mais à frente, usaremos a
metodologia estudo de caso para pesquisar como o tema se comporta em um caso
específico - a HQ Watchmen, de Alan
Moore e Dave Gibbons, uma obra
claramente inspirada em descobertas científicas, em especial a teoria do caos.
Para
cumprir esses objetivos, o trabalho será dividido nos seguintes capítulos:
·
Introdução – na qual são esclarecidos os
principais conceitos utilizados ao longo do trabalho: a noção de paradigma, as
revoluções científicas, o conceito de divulgação científica.
·
Capítulo I : Ciência e Imaginação – no qual se desenvolve a questão
da relação ente ciência e imaginação, uma relação problemática para os que
advogam uma predominância do contexto da justificação. Demonstra-se que o
desenvolvimento da ciência no século passado deu ensejo à criação de um novo
gênero de ficção, ficção essa que esteve em suas origens comprometida em
divulgar as idéias daqueles grupos mais avançados da ciência da época.
·
Capítulo II: A Ciência nos
Quadrinhos -
Apanhado histórico dessa relação, demonstrando de que maneira a ciência vem
sendo vista pelos quadrinistas desde que essa mídia incorporou os novos
gêneros, como a aventura e a ficção científica, na década de 30, até os dias
atuais. Mostra também as situações em que as histórias em quadrinhos anteciparam-se
à ciência, prevendo avanços científicos e técnicos.
·
Capítulo III - Os Autores - Biografia dos autores de
Watchmen, em especial de Alan Moore, o roteirista. A postura política e
estética de Moore e como isso pode ser encontrado em seus trabalhos: a
preocupação com a ecologia em Monstro do Pântano; o terror atômico em
Miracleman; a geometria fractal aplicada à vida de uma cidadezinha do interior
em Big Numbers; a realidade virtual em 1963.
·
Capítulo IV - A Obra - As origens de Watchmen. O que
essa obra representou para os quadrinhos. A ciência e o cientista em Watchmen a
guerra nuclear e a advertência quanto aos aspectos potencialmente nocivos da
ciência.
·
Capítulo V - Uma Imagem do Caos – no qual é demonstrado como Alan
Moore utilizou elementos da geometria fractal para construir sua obra.
·
Capítulo VI - A Complexidade em
Escalas - Análise
de um capítulo de Watchmen.
·
Conclusão – na qual são amarrados alguns dos
temas desenvolvidos ao longos dos capítulos, entre eles: “As HQs se prestam à
divulgação científica e de que maneira?”, “Os gibis podem despertar as pessoas
para as questões da ciência?”, “Por que a ficção constantemente antecipa mais
que a ciência?”
Boa tarde! Meu tcc está na área de HQs, com temática saúde bucal para divulgar a química. Seu TCC certamente me auxiliará na escrita e desenvolvimento do meu trabalho, e por isso te agradeço por disponibilizá-lo. Desejo sucesso em sua carreira!
ResponderExcluirAtt,
Steffany Gomes
Meu TCC é sobre divulgação científica e quadrinhos também. É muito bom ver que o tema está sendo levado para as bancas de conclusão de curso. Boa sorte!
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